sexta-feira, 23 de junho de 2017

Os Gémeos de Cristiano Ronaldo – Tratar-se-á Exactamente da Utilização de uma “Barriga de Aluguer”?


Como seria mais do que natural, o nascimento dos filhos de Cristiano Ronaldo monopoliza as atenções, mas, para além do facto em si mesmo, merece alguns comentários a respeito da utilização da expressão “barriga de aluguer”.
Segundo resulta das notícias divulgadas, o nascimento teria resultado da introdução do sémen de Ronaldo, não se sabe por que vias, no organismo reprodutor de uma mulher que se predispôs a suportar os resultados, permanecendo no anonimato e prescindindo de reivindicar a maternidade. Mas, numa apreciação muito genérica, tal não constitui nenhuma novidade e traduz o procedimento que é usualmente designado como inseminação artificial.



Num outro plano, totalmente diferente, situa-se a procriação medicamente assistida em que um óvulo, já fecundado, é introduzido no útero de uma outra mulher, que vai gerar a criança.
Uma defensora do “Contrato de gestação” (sic.), Vera Lúcia Raposo (Revista do MP, n.º 149, 2017), sustenta que, neste caso, qualquer direito relacionado com paternidade e maternidade se deve atribuir aos dadores dos gâmetas e não à autora da gestação da criança, colocando-se aqui um elemento diferenciador da situação que tem sido propalada, onde a detentora da “barriga de aluguer” não deixa de ser a mãe genética da criança.
A expressão “contrato de gestação” é bem clara e está isenta de ambiguidades: - trata-se apenas de um simples negócio, como quem compra batatas ou arrenda uma casa, etc., etc.
Relativamente a este negócio (e, um contrato é, por definição, um negócio) noticiava-se há pouco:

« Realizou-se em Madrid a 6 e 7 de Maio a feira Surrofair, que juntou 24 expositores de agências de todo o mundo especializadas no negócio das barrigas de aluguer. A feira oferecia atendimento reservado aos potenciais interessados, além de debates com oradores de cada uma das empresas com temas como «selecção e relação com a gestante», «aspectos legais a ter em conta na hora de escolher um destino», «como reduzir gastos e aumentar as taxas de êxito» ou gestação de substituição na Ucrânia, no Canadá ou nos EUA.
No sítio da revista organizadora pode ler-se artigos sobre as razões para as diferenças de preço entre os diversos países (entre o 35 e os 150 mil euros), os motivos para a Índia ser dos «destinos mais económicos», ou manuais sobre como discutir orçamentos - estão ou não as ecografias obstétricas incluídas no preço, os advogados para tratarem da saída do bebé do país são ou não de confiança, etc. Preocupações - chamemos-lhe assim - que revelam o grau de mercantilização de todo o processo. » in AVANTE, 18/05/2017


Numa outra vertente, é insofismável que, para as camadas aristocráticas, sempre existiram as “barrigas de aluguer” no sentido inicialmente referido e que forneciam o imprescindível herdeiro que garantiria a continuidade do seu poder e, nestes casos, as mães eram sequestradas para toda a vida, quando não eram feitas desaparecer por métodos mais expeditos e, para usar um velho refrão, já com barbas, mais uma vez se verifica que o capitalismo representa um progresso relativamente ao feudalismo, sem que, no entanto, se possam considerar como recomendáveis as soluções que propõe.
Aliás,  voltando atrás, os mais velhos, se procurarem nas suas memórias, seguramente que encontrarão casos de crianças que foram totalmente retiradas às suas mães e foram criadas (a palavra “criadas”, neste caso, tem um sentido ambivalente…) na total ignorância de quem tivesse sido a sua verdadeira mãe.
Quanto ao Cristiano Ronaldo e segundo se deduz das notícias que surgiram, o caso é bem simples e é essa a razão para questionar o uso da expressão “barriga de aluguer” que melhor se aplica às situações que antes se descreveram.
Em Portugal, nada poderia evitar que uma mãe, não só gestacional, mas também genética, viesse reivindicar a maternidade da criança, mas é pouco ou nada previsível que tal viesse suceder, perante as mais do que prováveis e chorudas contra partidas que terá recebido.
E, perante este panorama, na faz qualquer sentido tecer considerações moralistas a respeito da opção que foi tomada por Cristiano Ronaldo, apenas restando “dar-lhe” os tradicionais parabéns e desejar-lhe boa sorte.

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Longa Vida ao Grande Líder


Observe-se o seguinte texto em louvor de um dirigente político, no qual cinco partidos declaram, e. passa a citar-se:

«Têm um orgulho imensurável (sic) em apoiar alguém com os valores e os princípios professados por…, um homem honesto, capaz e corajoso, que tem trabalhado de forma incansável para melhorar a qualidade de vida» … do povo.

Estranha-se que tantos partidos não tenham “valores” e “princípios” próprios e diferenciados, ou, em simultâneo, tenham abdicado dos mesmos para apoiarem aqueles que sejam professados por um só Homem, o qual, seguramente, só encontrará comparação com o tão maltratado Kim Il-Sung, número 2 ou 3, já não se sabe bem.



Mas, sobretudo, ficámos a saber que tal foi feito com um “orgulho imensurável” (ficaria melhor dizerem “incomensurável”…), ou seja, com um orgulho que excede a humana capacidade de medir as realidades concretas!!!

Para partidos que surgiram com o anunciado propósito de renovarem o discurso político, não está mau…

quarta-feira, 17 de maio de 2017

A Palavra dos Outros - Modernidade e Trabalho por Conta de Outrem

Por vezes, convém atentar nas palavras de quem se insere em áreas ideológicas diversas, como sucede neste caso quanto a um ponto de vista eminentemente católico mas que se refere com grande clareza e actualidade aos chamados “direitos dos trabalhadores” e que surgiu no “Diário de Notícias” de Lisboa de 11/05/2017.
É claro que a laicidade é um valor essencial das sociedades modernas, tanto mais valioso quanto o Mundo tem vindo a ser invadido por fundamentalismo religiosos de diversos tipos, mas todos eles de resultados catastróficos para a Humanidade.
Porém, a modernidade do laicismo não pode servir para ocultar as mais arcaicas concepções da exploração do homem pelo homem e fazer-nos reverter a épocas em que quem trabalhava por conta de outrem não era dono do seu tempo.
Pedindo emprestado ao comentarista o conceito de que o demónio, embora bem disfarçado, está sempre presente e à espreita para fazer das suas, assim também realmente sucede com o desejo de explorar o seu semelhante que continua a ser omnipresente, mas bem disfarçado atrás dos mais bonitos e “modernos” conceitos, ocultando que os mesmos cheiram à escravatura que já foi (ou devia estar) extinta.

Por isso, é altamente saudável a reflexão que se transcreve.


terça-feira, 16 de maio de 2017

ASPAS

O PSD e o futuro… duas palavras que não esperaria ver juntas tantas vezes. Ou reparando bem… até que encaixam! O futuro é impossível de prever e facilmente esquecido, o que o torna perfeito para guardar as promessas do PSD. E é lá que ficam, e é lá que morrem. À nascença.


in DN



Será a comunicação social apenas um “pombo correio”, máquina de citações e aspas ou terá ela também a obrigação de verificar os factos?



Alex

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Já falta menos de um ano e parece que a funcionária meteu baixa

À boa maneira albuquerquista o problema das comemorações para os 600 anos do povoamento do arquipélago foi resolvido "empurrando com a barriga".

Em vez de serem tomadas medidas, o Governo albuquerquista nomeou uma funcionária e... pronto! Considerou que já não era preciso fazer mais nada e que os problemas se resolveriam por si próprios.





Mas, ao fim e ao cabo, ainda nada foi feito e o tempo é cada vez mais escasso.

A total incompetência e a incapacidade para governar estão bem evidentes neste caso.

A ver vamos...

sexta-feira, 12 de maio de 2017

Por onde andará o “Vinho Madeira”?

Apesar de toda a propaganda oficial, é por demais visível que a situação do “Vinho Madeira” marca passo que os pequenos aumentos no valor das suas vendas se referem à exportação para França dos “Vinhos para molhos”, que já chega a estar proibida devido à má imagem que pode transmitir.
É claro que qualquer panfleto turístico ou discurso de governante que se preze não deixarão de invocar o vinho como uma das glórias da Região, mas, conviria examinar o que se passa a este respeito no quotidiano da Região, e, nesse aspecto, nada melhor do que observar qual é o seu lugar nos locais mais sofisticados e que se dedicam ao consumo de bebidas tidas como “finas”.
De forma totalmente aleatória reproduzem-se as listas de bebidas que são apresentadas aos clientes em dois dos estabelecimentos mais prestigiados da cidade.
Num dos casos, em matéria de vinhos licorosos, existem quatro variedades de Madeira para cinco de Porto a que acresce o Xerês e o Moscatel, sendo poupérrima a variedade (e discutível a idade, digamos…) da oferta regional.


No outro exemplo estamos ainda pior e um estabelecimento carissímo propõe um cálice de “Madeira – 3 anos” por 5 euros, o que será pouco menos do que o preço de uma garrafa e constitui uma óptima solução para que não se fiquem a conhecer as características do “novo” vinho.
E, o “Porto” lá surge novamente em boa posição.


Em alternativa, observe-se a lista de um estabelecimento situado numa “casa de vinhos” e poder-se-á facilmente constatar o que seja uma oferta de corresponde à qualidade e prestígio que se pretende associar ao “Vinho Madeira”, pese embora o nível dos preços nos escalões mais vulgares.


Mas, escolheu-se este exemplo precisamente por constituir uma excepção… 
Ora, se no próprio local da produção, não existe valorização do produto, o que poderemos esperar?

segunda-feira, 8 de maio de 2017

A respeito do património artístico da Madeira – “Há quem tenha mais sorte que juízo”?

Já lá vão alguns anos, no anterior “Furabardos” (Abril/2006) teceram-se algumas considerações quanto a obras pouco divulgadas do património artístico regional, as quais foram intergradas num livro, publicado conjuntamente com Élvio Sousa, sob o título “Fragmentos”.

As “grosseiras” características do título que agora se escolheu para encimar este texto têm directamente a ver com a forma como são ignorados sectores significativos desse património, como se detectou, no passado dia 4, através do programa “Capelas ao Luar”, quanto ao recheio da Capela de Nossa Senhora da Consolação, no Funchal, pois a mesma exibe um frontal altar que é proveniente do Convento de São Francisco e consiste num requintado trabalho de embutidos com pedras coloridas, que foi característico da arte italiana.
Mas para além da sua beleza, esse frontal acha-se datado de 1701 e assinado pelo seu autor, um artista italiano, revestindo-se por isso de características raríssimas e altamente valiosas para a História da Arte.



Porém, apesar da sua existência ser conhecida, esta obra não tem estado acessível e, que se saiba, até à data não tinha sido objecto de qualquer divulgação num desaproveitamento que, pela sua importância, justifica plenamente a expressão inicial, que também poderia ser substituída por um outro dito popular, como seja, “dá Deus nozes a quem não tem dentes”.
De qualquer forma, e mantendo-nos na chamada “sabedoria popular”, cabe dizer que, “mais vale tarde do que nunca”, sucedendo que este tipo de iniciativas, que tem vindo a ser promovido pela Direcção Regional de Cultura, se tem revelado como surpreendentemente positivo pela adesão e participação que tem obtido.
Apetece dizer que o autor destas linhas anda algo desfasado da opinião pública na medida em que surge a elogiar uma iniciativa que não beneficia dos holofotes mediáticos, mas, é indiscutível que, com meios modestos, tem sido obtido um excelente resultado.
E, já agora, para terminar pergunta-se:

-Para quando uma exposição dedicada ao espólio do Convento de São Francisco?